Por João Gualberto e Helio Gualberto Neto
Compreensão e Diálogo: Fundamentando uma Cultura Organizacional de Empatia e Impacto Social
A sociedade brasileira foi construída a partir da ausência de alteridade social e de desejo de justiça. As elites autoritárias, que fundaram nossas intuições imaginárias, foram tomadas pelo machismo, pelo ethos escravocrata e pela ausência de amor por seu povo. Afinal, éramos apenas uma colônia destinada a produzir lucros para os colonizadores. Muitas mudanças ocorreram no nosso país desde então, mas muitas marcas profundas de nossa trajetória ainda estão presentes no cotidiano. O imaginário social ficou marcado pela dimensão social-histórica. Cada um de nós está sujeito a essas questões mais coletivas do mundo em que vivemos.
Mesmo no universo das instituições que operam a vida econômica, política e social, essa ausência de preocupação com o outro ainda está muito presente. A dimensão de relações com as pessoas é pouco comum. É hábito trabalhar com o universo macro através dos grandes projetos. Como os desafios ficam muito localizados nas instâncias, digamos, econômicas, os panoramas estratégicos costumam ser muito amplos e poucos conectados às demandas das pessoas, dos clientes, dos usuários, dos eleitores. Em qualquer contexto, entendê-las é sempre um exercício fundamental. Nossa sociedade quase nunca faz isso e as instituições de uma forma geral também não.
A questão que nos parece fundamental em nossos ambientes organizacionais é criar, a partir de um grande entendimento estratégico, uma cultura permanente da compreensão e do diálogo. Falta esse fundamento. Em outras palavras, não basta um olhar genérico, é preciso criar uma cultura de compreensão do ecossistema, como um todo, onde a instituição, liderança ou empresa opera. Falta a prática constante de diálogos estratégicos que auxiliam nas decisões mais importantes. Esse é o maior diferencial das intuições para transformar o comportamento das pessoas e, assim, transformar os seus próprios resultados e gerar os impactos desejados.
Parece grande como tarefa para as intuições, lideranças e empresas. Mas o que precisamos são revoluções permanentes nas nossas vidas e em nossas ações concretas. O desafio é operar o cotidiano com um olhar estratégico, ter aprendizados internalizados por todos a partir das escutas feitas e agir de forma diferente, criando, assim, lideranças com capacidade de interagir. Isso não é pouco.
Artigo publicado originalmente no jornal ES Hoje no dia 28 de junho de 2023.