O assunto está em todos os lugares, na obra-prima Adolescência, da Netflix, nas rodas de conversa dos pais e nos memes dos filhos, na complexa tarefa de cuidar do nosso próprio bem-estar e, cada vez mais, nos ambientes profissionais: nossa noção de saúde mental.
Gosto de pensar que a saúde mental é a forma com a qual nosso cérebro convive absolutamente imerso em informações, desejos e relações. Como responder ao feed infinito do celular, às metas do trabalho e ainda ter tempo para conversar com quem está ao nosso lado ou cuidar de nós mesmos? Como dormir com esse barulho, que hoje, é o som do mundo – e da nossa mente tentando acompanhá-lo.
Conseguimos lidar com ele mantendo minimamente nossos objetivos de vida, afetos e motivação? Ou estamos sendo levados a níveis de ansiedade, angústia, insatisfação, solidão e depressão cada vez mais difíceis de suportar?
Tema dos summits de inovação mais recentes, o foco na saúde mental e nas perspectivas individuais e humanas dos sujeitos tornou-se, inclusive, uma obrigação para as empresas.
Com a nova NR-01, norma publicada pelo Governo Federal, fábricas, escritórios, comércios e qualquer negócio passam a ter como obrigação diagnosticar e intervir em riscos psicossociais.
Em outras palavras, os tão frequentes casos de burnout e assédio serão considerados riscos dos ambientes de trabalho, com a possibilidade de os colaboradores vítimas responsabilizarem as empresas por suas condições de saúde. Isso exige um novo compromisso dos empreendedores com o gerenciamento de riscos e acompanhamento adequado.
Reflexo de um tempo em que as profissões e tarefas são cada vez menos físicas — e o esforço mental se torna protagonista —, a saúde psicológica das pessoas é um tema urgente, não porque os indivíduos se transformaram, mas porque as relações, a forma de conexão com outras realidades e o acesso à informação mudaram tudo.
Enquanto nossos pais, avós e mesmo muitos de nós lidávamos com um conjunto de valores, regras e realidades que tomavam forma em pequenos grupos de parentes, vizinhos, colegas de trabalho e amigos. Hoje a cultura se tece a partir de relações exponencialmente mais múltiplas e complexas. Sobrou para nossa geração se adaptar a essa realidade.
No mundo em que condições psicológicas ou psiquiátricas podem tiram mais vidas do que os acidentes de carro, como sugere a comparação das pesquisas mais recentes dos temas no Brasil, refletir em como cuidar da saúde mental em uma questão fundamental para todos: indivíduos e instituições.
A resposta certamente não é simples. Mas compreender quem somos, para onde queremos ir e quais são as nossas barreiras, dando a elas nome, significado, razões e consequências, é um bom começo. Um ponto de partida para criarmos nossos próprios destino com entusiasmo e qualidade de vida tanto em nossas vidas pessoais quanto profissionais.
Outro passo importante é buscar conhecimento e métodos que nos ajudem nesta jornada. Embora o mundo hiperconectado multiplique os desafios, ele também oferece muito mais possibilidades e ferramentas para superá-los. É o que acontece quando uma mãe tem acesso a insights de profissionais a respeito da educação do seu filho em uma rede social. Ou quando empreendedores em qualquer lugar podem conhecer metodologias de gestão e RH das maiores empresas do mundo por meio de um vídeo ou um curso online.
Para concluir, vale um registro: o que não funciona nesta tarefa de lidar com o barulho do mundo. Não funciona olhar para a nova realidade das nossas vidas com saudosismo. Muito menos tentar fazer o tempo voltar. Fazer isso é o mesmo que tentar dormir com o barulho mandando-o calar a boca. Ele não vai silenciar.
A nós cabe aprender a escutá-lo melhor para desenhar um mundo em que as empresas se tornem mais humanas e as pessoas possam viver, priorizando suas humanidades, afetos e a construção de uma vida melhor para todos.