Desde 2016, pelo menos, acompanho o mundo das tendências lendo relatórios e matérias publicadas por grandes instituições, empresas e profissionais com olhar atento, mas com um sentimento ambíguo que mistura descrença e observação da realidade.

São trabalhos de pesquisa que olham comportamentos emergentes, inovação tecnológica e de mercado, entre outras coisas, para apresentar como tendência para o futuro quais serão os grandes temas debatidos, os produtos da vez, os movimentos culturais.

Frequentemente, apontam para um mundo com grandes preocupações para a pauta climática, consumidores mais conscientes, tecnologias que devem transformar o mercado radicalmente (especialmente a inteligência artificial nos últimos anos) e seus reflexos sociais. Tudo bem. E vamos seguir com olhos atentos a todas essas questões.

Mas, falando sobre o sentimento de ambiguidade mencionado, não consigo parar de pensar que apesar de todas as previsões e alarmes para as questões ambientais, as políticas de ESG ainda são discurso. Afinal, você conhece alguma grande empresa que declarou já ter atingido um tamanho de mercado e resultados financeiros suficientes para não aumentar suas metas de crescimento? Na natureza, o único sistema vivo que cresce sem limites se chama câncer. No mercado, o padrão é vermos gigantes corporativos divulgarem, ano após ano, que não param de crescer e assim querem continuar fazendo.

Enquanto os relatórios de tendência, em grande parte elaborados em escritórios na Europa e nos EUA, apontam um mundo sem barreiras de idioma e criam uma aldeia global. No Brasil, continuamos sem conseguir voltar ao grupo de WhatsApp da família por conta de posições políticas. Aliás, a política é um capítulo a parte porque nela, nem os relatórios de tendência parecem ter a ousadia de arriscar qual é o futuro. Talvez porque, desde os anos 1960, continuamos discutindo apenas dois caminhos. Só é possível ser comunista ou defender o capitalismo?

Resumindo, enquanto olhar para o futuro por meio das lentes das tendências nos traz a sensação de um novo mundo mais bonito. O presente é uma enxurrada de notícias, pessoas e comportamentos que parecem ignorar que os próximos anos serão construídos pelas decisões que tomamos hoje.

Não compartilho minhas percepções para dizer que olhar para esse tipo de conteúdo é algo ruim. Pelo contrário, vejo nela valor e excelentes insights para nosso conhecimento, negócios e para nossas vidas. Mas questiono por que não conseguimos, como coletivo, tornar nossas grandes descobertas em valor compartilhado para as pessoas? Autores, pensadores e profissionais com foco em desenvolvimento pessoal, inclusive, estão trabalhando na perspectiva individual porque já admitiram: vale mais conscientizar um executivo sobre sua vida falando sobre seu casamento, seus filhos ou sua relação com o mundo do que acreditar que ele, de fato, seja capaz de mudar o apetite de uma grande corporação.

Por ora, acredito que além de observar essas grandes tendências, é essencial olhar para o nosso lado. Começando pela rua onde a gente mora, nosso vizinho ou o grupo da família para traduzir esse conhecimento em ações concretas e cotidianas, que impactem de verdade nossas vidas e as pessoas ao nosso redor.

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